O Mês de Janeiro

Heuchera 'Plum tart', Omphalodes vernaTiarella cordifolia, Helleborus, Viola, Cyclamen coum

Janeiro é o Inverno no jardim e o frio que deixa o seu cunho. Crestada pela geada a terra sela-se em silêncio, escondida do sol, fria. E é agora um grito, um eco quebrado à espera de transbordar em vida. Mantém-se fria e mantém fria as raízes das árvores e das ervas no meu jardim. Abandona-se ao vento Norte, às geadas que arrefecem o mosto mineral, cristalizando por instantes o Inverno nesta terra. Terra ao Sul, e ainda que banhada pelo sol, como tantas vezes em Janeiro, é o  sol de Inverno e ele não trás calor. Declaro aqui o meu amor ao Inverno, a esta terra, a este jardim. O Inverno: ele que faz correr alto os sonhos do jardineiro, agora distante da realidade ditada pelo alto Estio, projecta o jardim sem amarras.  Porque os canteiros oníricos são feito assim, aos sabor do leito do rio que vai cheio de esperança e tudo permite.      

Helleborus x hybridus, Iris unguicularis 

Cyclamen coum, Viola odorata, Helleborus 'Yellow Speackle'

Helleborus niger

O Spring garden em Janeiro

Tiarella  cordifolia ao centro

Leucojum aestivum

O primeiro Cyclamen coum

Helleborus x hybridus 'Yellow speackle'

Helleborus ' Harvington Double White' / 'White Lady'/'Harvington Shades of Night'/ Helleborus niger

Helleborus x hybridus  'Double Ellen White'

Helleborus x hybridus

Viola odorata e Helleboru ' SP Conny' / Iris unguicularis / Seedling de Helleborus x hybridus
       
Helleborus x hybridus 'Pretty Ellen'

 Polystichum setiferum 'Herrenhausen', Primula vulgaris, Helleborus, Viola

Mas, Janeiro nunca foi um mês feliz. Como se depois das festas o peso do Inverno caísse de súbito para esmagar a alegria artificial do Natal. Janeiro chega sobre a forma de factura emocional, uma vez apagadas as luzes do pinheiro deixando, na verdade, apenas uma estreita janela para o sonho entrar. Mas, é no jardim que encontro já sinais de que em breve o tom áspero deste mês há-de mudar. São pequenos sinais de luz, como o da Iris uguicularis, a primeira do ano a levantar as cores garridas. É uma planta que se tivesse nascido no Verão seria feliz mas, decidiu antes dar cor em pleno Inverno, e as coisas nem sempre lhe correm bem. Ainda assim, nos dias em que a chuva não cai, as flores desta bela Iris desfraldam-se ao sol como um pano de alento para animar o mais miserável dos Janeiros. Acompanham-na nesta tarefa as primeiras Viola odorata, que começam exactamente em Janeiro a florir, uma pequena flor que passaria despercebida em qualquer outro mês, mas que agora toma as vezes de protagonista. Brilha nos canteiros quase em exclusivo, quando todas as outras parecem ainda dormir. E faz questão de se fazer notar tanto pela cor, como pela sensação olfactiva, por ser possível tantas vezes sentir o seu perfume ténue no ar frio deste mês. 

Janeiro leva me a olhar em frente, ainda que consciente do jardim passado, dos seu erros e sucessos. Debato-me com ideias, ilusões e realidade. E é no jardim de primavera, ainda tomado pelo Inverno, que venho respirar, é daqui que partirá o novo ciclo de floração. Não posso deixar de notar as pequenas plantas que cobrem um recanto deste jardim; cobertura de gemas vegetais sobre a forma de uma Saxifragaceae, nascida longe, no continente novo, mas que agora cresce aqui num quintal do velho mundo: é a bela Tiarella cordifolia, ainda fazendo só metade de tudo o que é capaz.  Estende já as suas belas folhas enquanto se espera pelas flores que hão-de vir lá para Abril. E neste pedaço de chão, partilha o ofício de tapizar com uma outra planta da mesma família: a Heuchera 'Plum Tart'. As duas acompanham aqui, naquilo a que eu chamo a "Helleborus' walk", as variedades de heléboro conhecidas como 'Pretty Ellen', 'SP Conny' e 'Shades of Night', às quais se iram juntar muitas outras bolbosas para o início da estação vernal. 

Esta parte do jardim fica debaixo de três grandes cerejeiras, árvores fruteiras muito apreciadas cá em casa e que formam o tecto perfeito para esta sala primaveril, sobretudo quando irrompem em floração e continuam em altura o banho de flores que cobre o chão do jardim na Primavera. O único senão, é o sistema radicular de cariz superficial destas árvores, que é particularmente invasivo numa delas e que obriga esta zona do jardim a uma plantação de natureza mais herbácea e algo efémera. São necessárias plantas capazes de suportar a competição radicular, ou que estejam de alguma forma habituadas a situações de solo congestionado por raízes. Muitas bolbosas não se parecem importar, e as Helleborus com o seu sistema de raízes bastante profundas, não se incomodam nada com os vizinhas avarentas. O mesmo se passa com Aquilegia, Primula e Geranium, ou com anuais e bianuais como as Digitalis, que devido à sua vida breve, não chegam a ter um sistema radicular amplo e por isso acomodam-se bem entre as raízes das cerejeiras. Mas, recentemente tive necessidade de transplantar roseiras nesta secção do jardim e percebi que tinham as raízes envolvidas, até mesmo trespassadas, pelas raízes destas árvores.  Embora considerando este contratempo que acrescenta algum desafio ao plantio, as cerejeiras são árvores que muito estimo e que devolvem ao solo muito do que dele retiram. Como, quando chegados ao Outono, descubro uma camada alta de folhas cobrindo todo o spring garden: acabadas de cair dos ramos das cerejeiras, vão alimentando-o, nutrindo-o de alto abaixo à medida que se transformam em húmus. Melhoram assim a estrutura do solo ao longo dos anos e, no fundo, projectam na direcção certa todo o ecossistema do jardim. As Helleborus gostam particularmente deste tipo de ambiente, agradecem e retribuem agora neste mês de Jano, com as suas primeiras flores que são favoritas deste jardineiro, e que por elas, ansiava há muito pelo mês de Janeiro.


Janeiro 2018

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